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Morre José “Pepe” Mujica aos 89 anos, ex-presidente do Uruguai e símbolo da esquerda latino-americana.

Figura histórica da esquerda latino-americana, Mujica enfrentava um câncer terminal e optou por não se submeter a tratamentos agressivos.

Uruguai – Morreu ontem, terça-feira (13), aos 89 anos, em Montevidéu, o ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica . Ícone da política uruguaia e símbolo da esquerda progressista na América Latina, Mujica enfrentava um câncer no esôfago em estágio avançado e vinha recebendo cuidados paliativos desde o início do ano.

A confirmação da morte foi feita pelo atual presidente uruguaio, Yamandú Orsi, e foi por meio das redes sociais. “Sentiremos profundamente sua ausência, querido velho. Obrigado por tudo que fez e pelo amor incansável ao povo”, escreveu Yamandú Orsi, em uma nota de pesar.

Mujica havia tornado pública sua condição de saúde em janeiro, durante entrevista ao jornal Búsqueda. Na ocasião, disse que não buscaria novos tratamentos, reconhecendo que a doença havia se espalhado. “Meu tempo acabou. Estou morrendo. E um guerreiro tem o direito de descansar”, afirmou.

Trajetória: da guerrilha à presidência

Nascido em 1935, em uma família humilde de Montevidéu, José Mujica iniciou sua militância política ainda jovem. Na década de 1960, aderiu ao Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros, grupo de guerrilha urbana que combatia a repressão durante a ditadura militar uruguaia. Foi preso em diversas ocasiões e ou quase 15 anos encarcerado, grande parte em regime de isolamento.

Com o retorno da democracia, Mujica trocou a luta armada pela via institucional. Foi eleito deputado, depois senador, e finalmente presidente da República, exercendo o mandato entre 2010 e 2015. Seu governo foi marcado por políticas sociais de vanguarda, como a regulamentação da maconha, a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo e o fortalecimento de programas de redistribuição de renda.

O ex-presidente ganhou notoriedade internacional por sua vida austera. Morava em uma chácara nos arredores da capital, dirigia seu próprio Fusca e doava grande parte de seu salário à caridade. Esse estilo de vida lhe rendeu o apelido de “presidente mais pobre do mundo”, um rótulo que rejeitava, mas que consolidou sua imagem como líder próximo do povo.

Foto: José Cruz/Agência Brasil.

José “Pepe” Mujica marcou a história do Uruguai com sua simplicidade e firmeza ideológica.

Coerência e crítica à autocracia

Apesar de ser uma das figuras mais respeitadas da esquerda latino-americana, Mujica jamais hesitou em criticar regimes autoritários que se diziam progressistas. Condenou abertamente os governos de Nicolás Maduro, na Venezuela, e de Daniel Ortega, na Nicarágua, por considerar que haviam se afastado dos princípios democráticos.

Até seus últimos dias, manteve firme sua postura ética e coerente. Lucía Topolansky, sua companheira de vida e ex-vice-presidente do Uruguai, declarou recentemente que os cuidados paliativos estavam sendo conduzidos com o objetivo de preservar a dignidade de Mujica em seus momentos finais.

A morte de Pepe Mujica encerra uma era marcada por ideais, resistência e autenticidade na política latino-americana. Seu legado, construído com palavras simples e ações firmes, seguirá como exemplo raro de integridade no poder.

Redação: Jornal ATV – A Tribuna do Vale.